Aprenda a separar as contas pessoais das empresariais
Dora Ramos
Quando chega a hora de fazer o balanço da companhia, muitos administradores
sofrem porque não conseguem chegar aos números esperados. No Brasil,
segundo dados divulgados pelo Serasa, só no ano de 2007, 2.721 empresas
foram à falência. Associando esses dados à minha experiência
de mais de duas décadas no mercado contábil, afirmo que aproximadamente
60% desses casos se devem à mistura que os empreendedores fazem da vida
financeira pessoal com a empresarial. Apesar de terem certeza que contabilizaram
todos os lucros e despesas corretamente, a maioria não encontra o capital
que parece ter desaparecido pelo caminho.
Com o intuito de facilitar os diversos cálculos que são obrigados
a fazer, alguns empresários costumam colocar as contas pessoais no mesmo
cálculo das contas da empresa. O problema é que, muitas vezes, o
pró-labore, como é conhecida a remuneração do trabalho
realizado pelo proprietário da empresa, é utilizado de maneira abusiva
ou, até mesmo, ingênua pelos donos de empresas que reclamam não
ter capital de giro disponível ou que seu empreendimento não gera
lucros.
A dúvida que a maioria das pessoas possui é de como determinar,
de maneira justa, o salário do próprio cargo que ocupa e conseguir
separar os gastos pessoais com os gastos da empresa, além de fazer com
que a mesma possua um capital de giro. Existem algumas maneiras de se definir
esse valor, e uma delas é o empresário buscar saber quanto ganha
em média no mercado um profissional que desempenha as mesmas funções
que ele, considerando, claro, sua própria experiência e qualidade
do desempenho das atividades.
Para que o processo aconteça da maneira correta, o empresário deve
tentar definir esse valor a partir da média oferecida no mercado. Também
é interessante que se faça uma busca em empresas similares que possuam
empresários que desempenham as mesmas funções.
Além de tudo isso, é importante que o empresário elabore
uma lista, relacionando todos os seus gastos pessoais (prestações,
conta a pagar, cartões de crédito, escola dos filhos, gasolina,
lazer, alimentação etc.) no qual o resultado desta lista deve ser
o mínimo a ser considerado como o pró-labore, integrando assim o
valor das despesas e dos custos fixos da empresa.
Para que essa mudança seja efetiva, o empresário precisa manter
a consciência de que os valores recebidos pela empresa são de propriedade
da própria empresa, não dele. Ao misturar sua vida financeira pessoal
com a vida financeira da empresa, o gestor contribui de maneira significativa
para a desorganização administrativa do empreendimento, além
de não conseguir estabelecer um planejamento organizado para sua própria
vida pessoal. Os valores e as necessidades se misturam, e fica difícil
conseguir separar o primordial do supérfluo.
Os lucros da empresa não representam os lucros pessoais do empresário,
mas, ao mesmo tempo, ninguém trabalha de graça. Toda e qualquer
pessoa tem direito a receber uma remuneração pelos serviços
que presta, inclusive o dono do negócio. Para que ele tenha sua remuneração
aliada ao crescimento de sua empresa, é importante que identifique, com
neutralidade, o valor de seus esforços dentro da sua própria organização.
Dora Ramos atua no mercado contábil-administrativo há mais de vinte
anos. É fundadora e contadora responsável pela Fharos Assessoria
Empresarial. www.fharos.com.br