O que se exige dos novos líderes
    Marcelo Mariaca 
   
Os bons livros de gestão e escritos por CEOs bem-sucedidos geralmente    
relacionam todas as qualidades que o líder deve ter para administrar    
com sucesso as corporações. A lista das características,algumas óbvias e 
ditadas pelo bom senso, e outras nem tanto, vem crescendo na medida em 
que o universo corporativo se transforma, pressionado pela necessidade    
de globalização das empresas.
Há décadas, pouco mais se exigia de um CEO do que inteligência,    
habilidade com os negócios e conhecimento do ramo. O mundo, no entanto,    
tornou-se mais complexo e as empresas querem verdadeiros líderes, e não    
mais aquele "chefe" do passado que ficava dando ordens atrás    
de uma escrivaninha.
A globalização, por exemplo, impôs que o executivo tenha uma visão mais 
ampla do negócio, do mercado e do próprio mundo. Antes, bastava que operasse 
na esfera do conhecido - ou seja, dominasse as operações e atividades que 
se realizavam dentro dos muros de sua fábrica e de seu escritório. 
Hoje, os líderes devem ter também a capacidade para trabalhar com o 
desconhecido, com as ambigüidades,fora da área de conforto.
A atuação global também aumentou os riscos, em todos os aspectos. As 
empresas lidam com diferentes legislações, economias e culturas, o que 
exige do líder conhecimento das diversas realidades e, sobretudo, flexibilidade 
para adaptar-se à diversidade. Nesse particular, a capacidade de comunicação 
tornou-se uma qualidade imprescindível aos executivos.
Nas empresas insulares do passado, com diversos níveis hierárquicos, havia 
uma grande distância entre os líderes e os stakeholders, como empregados, 
fornecedores e clientes. 
Esses públicos estratégicos ganharam mais força e poder na sociedade moderna, 
o que obrigou as corporações a ampliar e fortalecer os canais de comunicação 
e colocar seus líderes na linha de frente.
Um dos exemplos mais visíveis e curiosos no caso brasileiro foi a ação que a Ford 
do Brasil empreendeu para reconquistar os clientes usando o então presidente 
da montadora, Antônio Maciel Neto, como garoto propaganda de seus carros. É comum, 
por exemplo, o CEO fazer road shows para ganhar ou fortalecer a confiança 
dos acionistas.
Tão logo assumiu a presidência do Santander no Brasil, o colombiano Gabriel Jaramillo 
fez um tour pelas agências do banco para olhar os empregados nos olhos e 
comprometê-los com os objetivos da instituição, que acabava de comprar o Banespa. 
Vale lembrar também o exemplo do saudoso comandante Rolim, que costumava recolher os 
cartões de embarque e cumprimentar pessoalmente os passageiros da TAM. Nos principais 
lançamentos de produtos, Steve Jobs, da Apple, e Bill Gates, da Microsoft, atuam como 
verdadeiros showmen para seduzir os consumidores.
Esses e muitos outros casos, mais do que ações de marketing, mostram que os 
líderes devem suar a camisa e gastar a sola do sapato para se comunicar com seus 
stakeholders. 
O executivo não pode ser mais aquele chefe enclausurado no bunker da empresa 
disparando ordens por e-mails.
A globalização impôs novas exigências para os líderes de empresas globais, além do 
conhecimento de gestão, da capacidade de inovar, de se adaptar de forma rápida e 
eficiente à nova realidade e de prever cenários e o futuro. Outro grande desafio é 
trabalhar com times de diversos países, multiculturais, e criar relacionamentos e 
alianças estratégicas ao redor do mundo que ajudem a desenvolver os negócios. 
   
Marcelo Mariaca é presidente da Mariaca e professor do MBA da BBS - Brazilian    
Business School, associada à Universidade de Richmond - daniella03@lide.com.br